segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Por Lisandro Amaral - Curandeiros








Eles estiveram lá...     

Onde há ruínas, cheguei tarde ou retornei? Agora, com outro tipo de missão cheguei há tempo nas ruínas missioneiras: Redução de São Miguel.

            24 de outubro do ano de 2010.     Senti-me jovem, e ao mesmo tempo mais antigo que a saudade dolorida que habitava a Catedral. Não consegui guardar, só para mim, as lágrimas e palavras que afogavam o interior. Chamei pelo telefone o meu guia geral, que apelidaram nesta vida de Eron Vaz Mattos e simplesmente agradeci a ele o que era pra mim a mais próxima intenção de saudade.

Eu estive lá... 
Onde há ruínas, afagou-me o vento manso como o filho que retorna e tem saudade do carinho materno da terra – Mãe de todos –  Mãe  para todos...

Entendi exatamente sua cor vermelha. O simbolismo das paredes e, aprendi que até na pedra fundem-se as raízes da figueira, numa tentativa desesperada de tornar-se imortal, petrificando-se, sem ser Ruína e já sendo.

Muitos umbus imponentes, porém, de uma humildade nítida, quando o mesmo vento que abanava meu cabelo, e o pano largo da bombacha, embalava suas crinas de guardiões  – tempo e memória.
Recorri todos os cantos possíveis, e quando entrei na sala reformada para projeções de vídeos aos visitantes - a encontrei - a espera do meu canto. E como estive afinado, totalmente entregue ao canto verdadeiro da saudade do meu povo, que ficara entrelaçado na alma da redução.
"amanheci o canto livre / de um sabiá no parador/ e o serenal derramado / adoça o canto adornado / do lacrimal sonhador"  quem houve o canto da terra/ desconheci a dor da encerra / não sabe as cores da guerra / e adora um único Santo...
Reconheci, ali o verdadeiro sentido de uma canção que nasceu e ainda não tem nome: talvez a chame de: Catedral do Canto Livre.
A minha fascinação pelos cavalos me encaminhou, por último, ao potreiro onde pastaram e descansaram, aguardando a missão diária:  o altar de pêlo e crina, servidor também da terra, que até hoje provavelmente, habitam o sangue dos meus cavalos.
Senti seu cheiro, os vi estendidos no pasto, e os pelos que ficam, após a famosa "rebolcada" para relaxar depois de cumprirem a lida diária. Estavam bem... e me entregaram antes de partirem estas palavras:

Catedral

Também - de pedra - meu cantar não se termina
Caído ao solo beijo a terra e escrevo a sina...
Terra vermelha é minha cor no arrebol
pois tenho sol no sangue em paz que me ilumina.

Também, de bronze, estou de joelhos catedral
No pedestal que cala os sinos, faço prece...
Quem não merece  – a terra  em si – terá perdão
Pois gratidão a vida tem e nunca esquece!

Deitou o dia sobre os muros do horizonte,
Bebi na fonte do silêncio natural...
Senti teu cheiro, mãe divina, em berço livre
Hoje o que eu tive foi tua benção Catedral.

Seguem aqui, hoje emplumados Guarani
No bem-te-vi, no João Barreiro e entre os guardiões
Querendo sempre querer mais o quero-quero
Sabe o que espero e colho, aqui, muitos perdões...

Também de vento estou soprando - em ti - templário
No pedestal que fala o tempo a crosta esquece,
Ouvindo os prantos que derramam tua imagem
Achei coragem e sou guardião com pena em prece.


Hoje o que eu tive foi tua benção - Curandeira catedral.

Lisandro Amaral
26 de outubro de 2010.


   

3 comentários:

  1. Meu ammigo, é por isso e por tudo o que tens na alma, que tua e tua lind família são ponteiros a guiar nossos sonhos, rumo a realidade. Abraços a todos, com gratidão e respeito

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  2. Nossa Lisandro carrega uma essência em sua alma que se espande a todos que escutam ou leem os seus versos . Nos agradecemos pelos sentimentos que fazes brotar em nós.
    abraços
    Rosana Colléct
    Presidente dos Jovens Crioulustas do Paraná.

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  3. EMOCIONANTE!!!
    Me senti lá na terra de minha mãe,pisando no chão vermelho,vendo minhas raízes.
    Vivi as mesmas emoções quando pisei naquele chão!

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