terça-feira, 10 de maio de 2011

Renato Schorr relata viagem



            


             A região das missões do Rio Uruguai (não aquelas situadas no Tape, qual seja, ao longo do Rio Ibicuy/Jacuy), mas sim, aquelas “plantadas” ao longo do lendário Rio Uruguai, em ambas as margens, ainda possui remanescentes dos primeiros e verdadeiros donos da terra – os guarani - (guarani no singular provém de convenção). É possível se entender que “índios” sejam feito erva daninha, resistentes, somente isso poderia justiçar a sobrevivência de alguns exemplares da raça.
            Pois bem, essa gente valorosa que outrora vivia em harmonia com a natureza e dela retirava seu sustento, plantando apenas o necessário ao complemento alimentar, hoje, sobrevive em alguns pontos no lado brasileiro, em especial, no Rio Grande, nas reservas a eles destinadas. Em maior número na região de Tenente Portela, Miraguai, Redentora, Nonoai, Irai, Cacique Doble, contudo, menores concentrações estão presentes em muitos rincões.
            Habitam as reservas oficiais, mas, diante da mudança drástica imposta no passado e totalmente irreversível no presente, a ancestral cultura quanto à moradia e alimentação “ficou somente na lembrança”. O invasor lhes tomou as terras, impingiu-lhes a sua cultura e os seus meios de vida! Felizmente ainda conservam a língua mãe e, por igual, mantém os rituais, porém, lamentam a falta de meios para construção das casas específicas aos rituais. Os nativos tem no trabalho um sentimento de felicidade e saúde! Apreciar a natureza, para eles, tem o sentido de: maravilhoso.
            Havia poucos dias, estivemos em roteiro naquela região onde a realidade aflora triste, considerando que a gente autóctone, antes liberta na floresta! No mesmo rumo seguirão outros milhares de nativos com a construção de gigantes barragens. Explicar...!
            Na histórica São Miguel das Missões, tida por metrópole nos tempos áureos dos Sete Povos. Havia alguns anos, alguns remanescentes guarani receberam uma gleba de terras onde se estabeleceram a qual denominam: Aldeia Alvorecer (Tekoá Koenju),  onde desenvolvem suas atividades de plantação agrícola, em virtude da caça e da pesca ser insubsistentes para o grupo.
            Para prover o sustento de todo o grupo, a cestaria e o artesanato são vitais nesta fase, aí, as mulheres guarani fazem cestos, uns para comercializar, outros são para o uso nas casas, não podem ser vendidos, têm sentido histórico. Enquanto os homens auxiliam na busca do material nas matas.
Todavia, todos fazem o artesanato de madeira. Além do sentido comercial, há o lado cultural, preservando os hábitos e a costura, um legado histórico. Entretanto, o material utilizado para confecção de artesanato está escasso, logo, também essa atividade está um tanto prejudicada.
A prática do artesanato, confeccionando animais selvagens com os quais convivem desde pequeninos, por igual, possui o sentido acima exposto. As crianças desde a tenra idade aprendem esses ofícios, eles não ficam ao “bel prazer”, feito os brancos, até os dezesseis anos!  
O instigante está nas crianças, pois, elas não choram! Exato! Diferentemente das “nossas” crianças, não se vêem elas chorando.
É comum se ver os nativos comerciando maços de marcela, remédio para doenças, por igual, o produto da venda se constitui em “remédio” para solução dos problemas da comunidade.


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