terça-feira, 26 de abril de 2011

Oh de Casa! Don Cássio Selaimen

Abrimos mais uma semana com um homem que está sempre de a cavalo, quer seja nos sonhos, na realidade e acima de tudo, na maneira própria de viver - De Pingo Alçado no Freio tem orgulho de apresentar o artista do caminho, da luz, do fogo e da terra - Cássio selaimen 








1)    Por que acreditas que é importante fazer trabalho voluntário? 

Cássio - O trabalho voluntário é uma coisa maravilhosa de se poder fazer. Muitas vezes nem percebemos mas a ajuda que damos aos outros nos faz melhor ainda. Um grande privilégio que na maioria das vezes não nos damos conta. Melhor ainda se conseguimos ajudar sem pensar em receber nada em troca, nem mesmo reconhecimento. Muitos são movidos por esse sentimento. Quase um sentimento de compensação ou de condição. Ajudar sem saber a quem é a verdadeira doação. A vida é um bem fugaz, de um momento para o outro tudo muda, uma morte, um acidente, uma injustiça e sempre questionamos e adquirimos novos valores. É importante que estejamos lúcidos quanto a isso para poder viver em paz com o mundo que nos cerca e valorizar o que temos de bom na vida.


       2)Que influência a amizade com o capataz da fazenda do seu tio teve na sua vida, principalmente quando ele te "deixou" um poncho carnal vermelho?


Cássio - A amizade verdadeira é um dos maiores bens que temos. Que dizer de uma amizade entre pessoas tão diferentes, de mundos tão distintos como era o meu e o desse capataz? Essa herança pra mim foi uma grande surpresa, um par de arreios, um poncho e um 38 antigo. Talvez o que de mais valor teria para um tropeiro de seus 70 e muitos anos. Pra mim a verdadeira herança foi um pouco do vasto conhecimento campeiro, a sinceridade e a amizade as pessoas de fora, o simples da vida e ver de perto a essência de um gaúcho do tempo antigo. Os peçuelos que ficaram servem de lembrança material, mas um sentimento maior persiste ma minha lembrança e o claro reconhecimento de ter vivido bons momentos.








3)    Como surgiu o interesse pela cutelaria?


Cássio - A cutelaria faz parte de todos nós. Para uns mais para outros menos. Nada se faz sem uma faca. Não se corta o bolo de casamento, nem se defende a pátria como antigamente. O meu interesse na cutelaria surgiu em querer afiar bem minhas próprias facas, importei alguns livros e neles somente um capítulo era sobre afiação, todos mos demais eram sobre confecção de facas. Adquiri toda literatura possível em livros e em vídeo e estudei muito sobre o processo. Estudei sobre a faca gaúcha com mais dificuldade por falta de parâmetros e montei minha oficina. Máquinas enjambradas, materiais escassos e um perigo enorme. Remontei a oficina algumas vezes e aprendi um pouco de tudo, metalurgia, design, marcenaria, tornearia, mecânica, química, tudo para poder fazer uma boa faca, acredite uma faca reúne vários fatores diferentes. Talvez por isso um mestre cuteleiro era disputado, seqüestrado ou morto na época em que se guerreavam com facas, machados e espadas. O cuteleiro é um compêndio de conhecimentos. Hoje encontrei um consenso da faca do gaúcho. Tenho dificuldades artísticas e de confecção. Todas as facas tem suor e força bruta na lista de material.






Ao falar nas homenagens que recebeu, nosso artista é claro...


Já recebi algumas homenagens,entre as principais estão a musica “Pra Don Cassio Selaimen!” de Elton Saldanha e a poesia “Uma Faca Dr. Cássio” ! de Antônio Augusto Fagundes.  É curioso pois sou muito mais evoluído na minha profissão de ortodontista, com mestrado e doutorado, mas muitas pessoas me conhecem pela facas, ou até mesmo acham que sou uma lenda ou um idoso já falecido. A radio propaga além fronteiras e o boca-a- boca também. Muitos acham que minhas facas são mágicas ou tem propriedades que até o mais aficionado dúvida. É muito legal essa interação com as pessoas, gente que mora muito longe no fundo de um campo ou em Rondônia e que conhece as facas selaimen. Essa notoriedade é a maior homenagem. Existem muitos anônimos que merecem mais do que eu o reconhecimento formal das homenagens.

Don...

 Eu acredito em dons. Para pessoas que são visionários, músicos excepcionais,      poetas,   médiuns entre outros eu acredito que Deus tenha colocado um “chip” extra. As facas que eu faço vêem de um estudo exaustivo e contínuo e de um esforço muito grande. Para fazer uma faca não é necessário um Don. A receita é seguir os passos certos e fazer o acabamento de acordo com a sua paciência e o seu publico alvo, como em todo negócio.


Cássio dá um até breve, nos dando uma aula sobre o aço damasco...

 Uma técnica medieval que foi desenvolvida para assegurar a uma espada caracter´sticas de flexibilidade e poder de corte. Com o desenvolvimento da metalurgia e o aparecimento de aços melhores essa técnica foi perdendo espaço e sobrevive hoje por ser  de uma beleza impressionante e singular. Imagine uma pilha de 2 tipos de aço, intercalados em 10 camadas. Coloca-se no fogo e unen-se as 10 camadas. Corta-se ao meio ou dobra-se e temos 20 camadas, e o processo é realizado até obtermos um número “x” de camadas. Depois o aço recebe tratamentos mecânicos e químicos e exibe um desenho caracter´stico na lamina, Esse é o aço damasco e é assim conhecido pois o ocidente tomou conhecimento quando Alexandre, O Grande invadiu a síria com o exército romano. De maneira paredia, mas mais trabalhosa são feitas as espadas samurais.






"Pretendo continuar cultivando minhas amizades e se as facas puderem ajudar nesse contexto ótimo. Acredito que a vida é feita de ciclos e mudam de importância com o tempo. Por enquanto a cutelaria é uma coisa muito bacana na minha vida, me mantém ativo, assim como a minha profissão. Se um dia não tiver mais prazer em fazer facas quero ter a lucidez de parar e só ter boas lembranças"



“Enfrentar Batalhas pode ter várias conotações. Existe a batalha da dona de casa todos os dias, do churrasqueiro no domingo, do campeiro abaixo do mau tempo, do gourmet em uma apresentação e do soldado na guerra. A faca é como um remédio, um fármaco. Pode salvar e pode matar. Pode ser uma coisa boa ou ruim e tudo vai depender de quem discursar  e de quem ouvir o discurso. Existem cuteleiros que fazem da faca uma obra de arte, as minhas são instrumentos de trabalho. Existem palavras que cortam e furam muito mais do que uma faca........."


Cevamos o mate a ti Cássio. O mate da esperança que muitos reflitam sobre tuas palavras. O mate dos que são desbravadores e não temem desafios. O mate do reconhcimento e do agradecimento, pelos que és. 




Mais informações:

2 comentários:

  1. Ana, parabéns pela escolha da entrevista, o Cássio é uma pessoa ímpar, que merece muita mas espaço no nosso meio, peo ser humano que é e plo trabalho de excelência que vem fazendo. Um abraço. Beto Zaccaro.

    ResponderExcluir
  2. Beto, te agradeço. Contudo, os méritos são realmente do Cássio. Conto contigo, daqui prá frente. Abraços

    ResponderExcluir