domingo, 15 de maio de 2011

As multidões que habitam em nós



"Eu me contradigo ?
Pois muito bem, eu me contradigo,

Sou amplo, contenho multidões"
 
Walt Whitman




                  Acordamos com a nítida sensação de que somos desbravadores, mescla da brisa pampa de aberta e da amplitude do mar. Metemos o cavalo, o que para muitos pode parecer sem sentido. Contudo, a grande viagem é bela, também, porque, temos o privilegio de aprender na convivência. Alguns de nós tomados pela hesitação, outros pelo impulso incontido de andejar e encontrar caminhos...

Instante em que nos veio ao pensamento Eron Vaz Mattos


“ E a cada pouso um recuerdo
Se estirava na lonjura:
Apenas quem estradeia,
Sabe o que vale um momento
Quando as lembranças dão volta,
Enleadas na ternura
E nas razões que detem,
Tironeando o pensamento
Pra’o meigo rosto de alguém!..”


Estamos indispostos diante de fatos tão comuns, banais, acostumados que estamos com uma vida cada vez mais espetacularizada. O campanário, da Serra, anunciava seis horas da tarde, saímos do transe, algo hipnótico provocado pela descoberta, misto de temor e vontade de prosseguir, assim tropeiam homens que muitas vezes não imaginam o que há depois da porteira da estância grande.

Entretanto, nosso andejar continua. “E a cada pouso um recuerdo...” 

No matear resolvemos debater sobre a tropa que descansava diante de nossos olhos – Rotina palavra que surgiu como um grande ponto de interrogação. Chegamos a concluir, momentaneamente que esta seria a palavra mais abjeta, e também a mais cortante, das milhares que aprendidas na escola e num impulso ainda juvenil, responsabilizamos a “pobre” palavra - afinal foi graças a ela nos tornamos afetados, toscos e  bisonhos.

                    Lembramos, então, que hoje se tornou “normal” famílias não fazerem os chamados ajustes de contas, ou seja, matearem ao pé do fogo de chão. Pais sem tempo no coração, mães atarefadas com o dia a dia. Filhos conectados a inúmeros fios e caixas, que em outro século, certamente seriam parafernálias, pois o olho no olho, a conversa franca, o corrigir, eram primordiais.

“As mulheres daquele retrato...” 

A mãe, matrona opulenta – professora de piano e habilíssima – superlativos eram adjetivos comuns em se tratando dessa mulher. Exemplo “ainda vivo” a ensinar harmonias e melodias, que de uma forma ou outra embalam almas e aquecem corações.
                   

Os anos passaram talvez nossa disfarçada insensibilidade se tornasse insuportáveis.  Tínhamos lido, talvez em Proust, que os verdadeiros paraísos são os que perdemos. Não!!! Deixamos de observar a jornada melodiosa, dançante e permitimos que o tempo conduzisse a tropa e logo, decidimos por vezes ir à culatra, quando o chamamento era o de pontear.
                         
                   No fim daquela tarde fatídica decidimos acertar contas com o tal destino....
Vem, então, “Voelvo el sur”. Voltamos rapidamente, ao lombo dos cavalos, para a serra e para o litoral, quando sentimos a necessidade de voltar ao coração.
Perguntar a ele: O que estamos fazendo? Onde andam nossas origens? Por onde andam nossas exemplificações? Há sonhos? Quais são os nossos?

                        Depois da sesta acordamos do sonho e a realidade, amigos, é firme, exige dos ginetes, não força, mas a ciência do equilíbrio, refazendo a velha e bem atual afirmação: “Conhece-te a ti mesmo!”

Cássio Costa e Ana Claudia Luz Feltrim

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